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Cariocas rebelados em 1904

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Avenida Brasil ou o Suburbano Esculachado


     Segundo a propaganda "oficial", a novela "Avenida Brasil" obteve grande audiência. Pior para nós, moradores dos subúrbios cariocas. Nesse folhetim de quinta categoria, fomos caracterizados, ou melhor, esculachados, como: Cornos, Promíscuos(as), Idiotas, Ignorantes, Vagabundos(as), Canalhas, Deslumbrados(as) e sei lá quantas "qualidades" mais.
      Pensando bem, não deveríamos nos surpreender com o retrato pintado pelo autor global, afinal, essa visão do subúrbio, região urbana onde habita a maioria do povo trabalhador, é muito própria da classe dominante. Para eles, nós somos isso mesmo, a escumalha, a baixaria, a ralé. Deve ser por isso, que através dessas novelas, eles tentam nos educar, passar a moral deles, ou melhor dizendo, a falta de moral deles.
     A "família" do Cornão, quer dizer Tufão, acompanhada dos que viviam a sua volta, representa na verdade a moral burguesa em tempos pós-modernos, onde o prazer individual e a ostentação estão acima de tudo. Eu quero, eu posso, eu tenho! Dane-se o resto. Um verdadeiro prato feito para os psicólogos e psicanalistas, tamanha foi a soma das demências explícitas ou enrustidas dos personagens.
     Se o objetivo da emissora e do autor foram reduzir a auto estima do suburbano carioca a menos do que zero, parece que conseguiram, pelo menos entre aqueles que de alguma forma se identificaram com o que estavam vendo . Mas será  que nós parecemos mesmo com aqueles farrapos humanos que desfilaram nos últimos meses diante de nossos olhos? Somos tão ridículos e estúpidos? Os subúrbios cariocas são o reduto privilegiado dessas figuras grotescas?
     Acreditamos que a nossa história e cultura desmentem de forma cabal essa caricatura medonha difundida pela mídia global. Com todas as mazelas do dia a dia, enfrentando a dura luta pela sobrevivência, trabalhando muito para  enriquecer uns poucos, o povo suburbano produziu e produz ainda coisas de valor que marcaram época na vida do Rio de Janeiro. Só para lembrar alguns, pois faltaria espaço num pequeno artigo para recordar os muitos talentos suburbanos, citamos: Lima Barreto (Escritor), Noronha Santos (Historiador), Nei Lopes (Escritor, pesquisador e compositor), Paulo da Portela (Compositor), João Nogueira (Compositor), Carlos Alberto Torres (jogador de futebol, o "capitão do Tri") e Zico ( Jogador de futebol, o "galinho de Quintino").
     Vamos ficando por aqui, não sem antes, deixar de afirmar que os subúrbios do Rio de Janeiro abrigam gente, que em sua esmagadora maioria, tem o caráter bem distinto dos apresentados na telinha da Globo. A escória que eles tentaram vender como nosso retrato, na verdade, reflete o umbigo deles, a ética deles, a receita da civilização decadente deles.

Ney Nunes  
   
   
   
       

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